Em agosto de 2023, a Huawei lançou o Mate 60 Pro, o celular topo de linha da marca. Seria mais um lançamento comum em uma indústria já acostumada ao marketing pesado e inovação constante, mas o aparelho causou certa apreensão em autoridades norte-americanas. Tudo porque contava com avançados chips de 7 nanômetros, tecnologia que os Estados Unidos não previam que empresas chinesas sob embargo tivessem acesso.
A Bloomberg contratou a empresa de análise de tecnologia TechInsights para desmontar o Mate 60 Pro e confirmar a presença do chip, e ainda atestar que a velocidade de dados 5G do aparelho estava no mesmo nível dos iPhones mais modernos.
A análise revelou ainda que o processador principal do aparelho, chamado Kirin 9000s, era fabricado internamente na China, pela empresa parcialmente estatal SMIC (Semiconductor Manufacturing International Corp).
A confirmação da presença dos chips avançados no aparelho deu início a uma investigação internacional, que tentava descobrir como a empresa sediada em Xangai conseguiu equipar o aparelho com tecnologia tão avançada, que embargos impediam que certas empresas chinesas comprassem.
O episódio foi apenas mais um no que alguns analistas chamaram de “Guerra Fria 2.0” entre Estados Unidos e China, uma disputa pela supremacia em setores de tecnologia de ponta. Os chips são considerados justamente os componentes mais importantes dessa disputa, tratados como tecnologia militar por ambos os países.
“Enquanto os norte-americanos querem manter sua liderança tecnológica e limitar o acesso da China a tecnologias avançadas, precisamos lembrar que essa disputa traz rendimentos próximos ao inimaginável. A China investe pesado para se tornar autossuficiente e líder global no setor”, afirma Cristovão Wanderley, sócio-diretor da StratLab, empresa que estudo de tendências de tecnologia, em entrevista ao blog.
A Huawei e outras empresas chinesas foram colocadas em uma “lista negra” pelo Departamento de Comércio dos Estados Unidos, que impediu que até fabricantes de países aliados vendessem produtos com tecnologia de ponta — principalmente chips avançados — para elas.
As medidas restritivas começaram no primeiro governo de Donald Trump e foram ampliadas por Joe Biden. As mais amplas e recentes foram ratificadas em 7 de outubro, e tentaram atingir a induústria artificial e de semicondutores da China.
“O mundo pós-Guerra Fria chegou ao fim, e há uma competição intensa em andamento para moldar o que vem a seguir. E no centro dessa competição está a tecnologia. A tecnologia irá, de muitas maneiras, reequipar nossas economias. Ela irá evoluir nossos militares”, afirmou o secretário de Estado Antony Blinken, em um discurso dado na época, na Universidade de Stanford.
A principal preocupação, segundo os presidentes norte-americanos, é a “segurança nacional”. Segundo eles, o presidente Xi Jinping pretende tornar o exército da China o mais poderoso do mundo, e conta com tecnologia norte-americana para alcançar esse objetivo.
Segundo um relatório do Departamento de Defesa dos EUA (PDF), a China já desenvolve armas futuristas capazes de operar globalmente, além de buscar supremacia em “guerras informatizadas”, que envolvem “automação, big data, internet das coisas e inteligência artificial”.
Ainda de acordo com o relatório, o país já lidera alguns setores, “como reconhecimento facial e processamento de linguagem”, mas ainda depende de chips modernos fabricados por empresas ocidentais para implementar tais recursos.
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