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Casa com 52 quartos e 365 janelas em Minas Gerais

A maior fazenda das Américas fica em Minas Gerais

Por: Profº Nicanor Fonte: Agrocampo.ig
19/10/2025 às 18h32
Casa com 52 quartos e 365 janelas em Minas Gerais
reprodução

No interior de Minas Gerais, cercada por colinas verdes e rios que refletem o tempo, está a Fazenda Santa Clara. Uma construção tão imponente que parece desafiar a passagem dos séculos. São seis mil metros quadrados365 janelas52 quartos e 12 salões.

 Dizem que é uma janela para cada dia do ano, um quarto para cada semana e um salão para cada mês. E o simbolismo não é coincidência: tudo ali foi feito para impressionar.

 Localizada em Santa Rita de Jacutinga, a Santa Clara é considerada a maior construção rural da América Latina.

 A Fazenda Santa Clara é um pedaço de alma do Brasil rural, um templo erguido pela força do campo, pela lembrança da escravidão e pelo perfume do café que marcou uma era.

 Um casarão que nasceu para ser eterno

A história da Fazenda Santa Clara começa entre 1760 e 1780, quando o fazendeiro Francisco Tereziano Fortes de Bustamante decidiu erguer um símbolo de poder. Com paredes de taipa e pedra e estrutura em madeira de lei, o casarão foi construído por centenas de pessoas escravizadas.

 A grandiosidade impressiona até hoje. De longe, a casa parece um palácio. De perto, revela o espírito de uma época em que o poder se media pela extensão das terras e pela altura dos alpendres.

Cada parede guarda o som dos sinos da capela e o murmúrio dos que viveram e trabalharam ali. É impossível caminhar por Santa Clara sem sentir que o tempo, de alguma forma, ficou preso entre as janelas.

 O tempo do café e o auge da fazenda

 No século 19, o café se tornou o ouro verde do Brasil. E a Fazenda Santa Clara estava no centro desse ciclo. Com terreiros de secagem, senzalas, tulhas e uma capela, a propriedade produzia grãos de qualidade, exportados para a Europa.

 Estima-se que cerca de 2.800 pessoas escravizadas viveram na fazenda durante seu auge. Elas cultivavam, colhiam e processavam o café que fez da Santa Clara uma das propriedades mais prósperas de Minas.

 Nos salões, a elite rural celebrava conquistas ao som de pianos franceses. Do lado de fora, o ritmo era outro: o som das enxadas, o estalar dos grãos secando ao sol e a esperança silenciosa de quem sonhava com liberdade.

 A fazenda, com toda sua riqueza e contradição, acabou se tornando símbolo do Brasil rural — poderoso, desigual e profundamente humano.

 

Cenário da novela Terra Nostra

 Mais de duzentos anos depois, a Fazenda Santa Clara voltou a viver um novo auge, desta vez nas telas. Em 1999, o casarão foi escolhido pela Rede Globo para ser o cenário principal da novela Terra Nostra, escrita por Benedito Ruy Barbosa.

 Na trama, a propriedade representava a fazenda do Coronel Gumercindo Telles de Aranha, interpretado por Antônio Fagundes, o barão do café mais imponente da ficção brasileira. Orgulhoso e autoritário, Gumercindo simbolizava o poder dos grandes fazendeiros do final do século 19.

 As cenas gravadas em Santa Clara mostravam os jantares da elite cafeeira, os encontros políticos, os conflitos familiares e o trabalho dos imigrantes italianos, liderados por Matteo Batistela (Thiago Lacerda) e Rosana Telles (Carolina Kasting).

 O contraste entre o luxo da casa grande e a dureza das plantações deu ainda mais autenticidade à novela, fazendo com que o público se conectasse com a história e reforçando a força simbólica da Fazenda Santa Clara.

 Por isso, o casarão acabou eternizado na memória dos brasileiros, tornando-se, pouco a pouco, um verdadeiro ícone da teledramaturgia nacional.

 Desde então, o local passou a atrair visitantes de todo o país e se transformou em um dos pontos turísticos mais conhecidos de Minas Gerais. Ano após ano, turistas de diferentes regiões viajam até Santa Rita de Jacutinga para ver de perto a fazenda de Terra Nostra, onde, um dia, Antônio Fagundes, Thiago Lacerda e Ana Paula Arósio viveram cenas marcantes da TV brasileira.

 Assim, a ficção se misturou à realidade, fazendo com que o antigo casarão voltasse a respirar, agora, como um patrimônio vivo da cultura rural e da memória do Brasil.

 

Entre a glória e o esquecimento

 Com o fim do ciclo do café e, sobretudo, após a abolição da escravidão, a Fazenda Santa Clara perdeu parte de seu brilho. Aos poucos, o movimento dos terreiros silenciou, e o casarão, antes repleto de vida, mergulhou em um longo período de esquecimento. Durante décadas, o tempo agiu sem pressa.

  Enquanto as janelas se fechavam, a umidade corroía as paredes, ao mesmo tempo em que os cupins devoravam a madeira e o silêncio passava a dominar os corredores.

 Somente em 2014, o governo de Minas Gerais decidiu intervir e tombou o conjunto como Patrimônio Arquitetônico e Paisagístico, garantindo, assim, sua preservação. 

 Desde então, o casarão respira um pouco mais seguro. Hoje, é possível visitar o exterior da fazenda, observar sua fachada monumental e, ao mesmo tempo, imaginar como era a vida ali, quando ainda o aroma do café perfumava o ar e o campo vibrava de movimento.

Mesmo desgastada, a Santa Clara continua imponente. De longe, o casarão parece respirar. É como se cada janela contasse uma história que o tempo ainda não teve coragem de apagar.

Uma janela aberta para o Brasil

 Visitar a Fazenda Santa Clara é mais do que uma viagem no tempo. É mergulhar nas origens do Brasil rural, no ciclo do café e nas contradições que moldaram o país.

 Cada azulejo é uma lembrança. Cada corredor, um eco do passado. Entre a glória e a dor, a Santa Clara segue firme como um retrato do Brasil em carne, pedra e café.

Com suas 365 janelas abertas para o passado, a maior fazenda da América Latina continua a nos lembrar que o tempo passa, mas a história não se fecha.

 

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