
A Polícia Federal cumpriu, nesta sexta-feira (14), um mandado de busca e apreensão em Coruripe, no Litoral Sul de Alagoas, na fase ostensiva da Operação Torch. A investigação apura o uso de perfis anônimos em rede social para divulgação de símbolos nazistas, mensagens de ódio e tentativas de recrutamento de crianças para ataques extremistas, segundo a corporação.
De acordo com a PF, os investigadores identificaram uma comunidade aberta em plataforma digital em que o administrador compartilhava livros relacionados ao nazismo, publicava conteúdos de ódio racial e difundia tutoriais voltados à manipulação de menores. O objetivo seria convencer crianças e adolescentes a participar de crimes violentos, com inspiração em ideologias extremistas.
A Polícia Federal afirma que o alvo da Operação Torch utilizava perfis sem identificação clara para tentar evitar o rastreamento. Mesmo assim, a área de inteligência conseguiu reunir elementos técnicos, como registros de acesso, horários de atividade e padrão de linguagem, que apontaram para um morador de Coruripe. O nome do investigado não foi divulgado oficialmente até a última atualização desta reportagem.
Durante o cumprimento do mandado, os agentes apreenderam computadores, celulares e mídias digitais que teriam sido usados para acessar a comunidade e produzir as postagens. Esse material será submetido a perícia, que deve buscar conversas privadas, arquivos armazenados e registros de navegação capazes de confirmar a origem dos conteúdos e identificar outros participantes.
A PF ressalta que a Operação Torch se concentra em crimes praticados no ambiente virtual, mas com potencial de atingir escolas, espaços públicos e famílias na vida real. A apuração tenta mapear se houve, além da propaganda de ideologia nazista, algum passo concreto no sentido de planejar ataques, selecionar alvos ou cooptar crianças específicas para ações violentas.
Investigadores explicam que a estratégia de usar comunidades abertas e linguagem cifrada não é inédita em grupos que defendem ideologias extremistas. Perfis costumam misturar referências históricas, códigos numéricos e símbolos gráficos para testar a reação dos seguidores e, a partir daí, aproximar os mais engajados em conversas privadas. Nessas trocas, seria feito o incentivo a crimes e o fornecimento de instruções mais detalhadas.
No aspecto jurídico, a conduta investigada pode se enquadrar em diferentes tipos penais. A divulgação de símbolos nazistas e a defesa desse regime se encaixam na lei que trata do crime de racismo, que prevê reclusão para quem fabrica, comercializa ou veicula esse tipo de propaganda. Dependendo do que for encontrado na perícia, também podem ser analisados indícios de incitação ao crime, associação criminosa e corrupção de menores.
A Operação Torch integra um esforço mais amplo da Polícia Federal para conter discursos de ódio e manifestações extremistas em redes sociais. Em outras ações recentes, a corporação tem cumprido mandados em diferentes cidades de Alagoas para identificar responsáveis por ameaças de ataques, apologia ao nazismo e conteúdos racistas publicados em perfis anônimos. A PF trata esses casos como prioridade pela capacidade de alcance e de mobilização dos ambientes virtuais.
Especialistas em segurança pública ouvidos em outras ocasiões por órgãos oficiais ressaltam que o monitoramento desse tipo de conteúdo é uma etapa necessária para prevenir episódios de violência. O acompanhamento de comunidades online, dizem, permite agir antes que planos saiam do campo do discurso. A análise do material apreendido em Coruripe deve ajudar a medir o grau de risco e indicar se havia articulação com pessoas de outros estados ou países.
Até a publicação deste texto, a Polícia Federal não informou se o investigado já prestou depoimento ou se há pedidos de medidas adicionais, como bloqueio de perfis e retirada de conteúdos da internet. A corporação também não confirmou se outras pessoas ligadas à comunidade virtual serão intimadas. A investigação segue em sigilo, e novos desdobramentos podem ocorrer a partir do resultado das perícias.
A reportagem tenta contato com a defesa do investigado. Caso haja manifestação, a versão será incluída na matéria. O espaço permanece aberto para esclarecimentos e contrapontos.