É debaixo de uma árvore que as crianças da aldeia do povoado indígena Aconã, em Traipu, no sertão alagoano, estudam. Sem escola para abrigar os alunos e profissionais de ensino, os 12 estudantes matriculados no ensino fundamental até o 5º ano são obrigados a enfrentarem sol e chuva na comunidade. A situação não é de agora. Está assim há 18 anos, segundo os indígenas. Alguns relatam ter deixado os estudos pela falta de estrutura e temem que ocorra o mesmo com seus filhos.
Só estudam em uma escola os alunos a partir do 6º ano, que são levados para uma comunidade que fica a 10 km da aldeia. O trajeto é feito de ônibus em uma estrada de barro. Segundo os indígenas, mesmo para os matriculados no sistema público, as aulas de toda essa geração têm sido ministradas de maneira improvisada, seja debaixo de árvores, seja em casas cedidas pelos indígenas. Eles cobram uma solução do governo do estado, que é responsável pela educação indígena, há anos.
A situação na comunidade se tornou ainda mais precária, como mostrou a coluna na quarta-feira passada, por conta das chuvas do início do mês. A aldeia está ilhada, com a única estrada que faz ligação com locais vizinhos tendo sido danificada. Hoje só é possível chegar ao local de barco pelo rio São Francisco.
A lancha que poderia transportar pacientes e moradores da comunidade, por exemplo, está parada há pelo menos dois anos por falta de manutenção. Após a reportagem, o MPF (Ministério Público Federal) em Alagoas cobrou ação da Funai (Fundação Nacional do Índio) para ajudar a aldeia de forma imediata.
Muito sofrimento O auxiliar de sala Diogo Tononé, que acompanha e ensina as crianças, explica que a situação piorou neste período de chuvas intensas na região. "É uma correria só! Neste ano já mudamos três vezes de árvore, e toda a área em que dávamos aula ficou alagada",
Sem proteção adequada, quando chove, os alunos acabam tendo problemas em proteger o material escolar —em especial os cadernos. "Eles tentam se proteger debaixo da árvore, mas às vezes não dá. Quando é época de verão, o problema é o sol muito quente. É muito sofrimento ao relento todos os dias", conta. Sem ter sede para estudar, um outro problema surge: onde preparar a merenda e guardar o material, como os computadores e televisão enviados pelo governo do estado?.
"O governo dá os materiais, só que, como a gente não tem o prédio, o que podemos fazer com eles? Muitos estão se perdendo. Por exemplo: foram enviados mais de dez computadores, que estão guardados, não tem onde colocar. A merenda é feita em fogão, mas ele fica à deriva. Temos televisão e armários sem usar", conta. Diante disso, ele cita que muitos alunos têm deixado a comunidade para estudar em locais com escola. "Tem gente indo de barco todo dia cedo, voltando à noite para estudar", relata.
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