A trajetória do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL-DF) é marcada por uma contradição que agora é exposta: por décadas, ele enalteceu a ditadura militar e até defendeu a impunidade para torturadores.
Hoje, o mesmo Bolsonaro recorre ao Estado Democrático de Direito para impor lentidão ao seu “processo” e até para evitar eventual condenação por supostos crimes cometidos durante seu governo. Em entrevista a um canal de YouTube na última semana, Bolsonaro reclamou da "pressa injustificada" do STF em julgar seu caso, afirmando que "a lei vale para alguns, mas não para todos".
A postura vai na contramão de suas declarações históricas. Em 2016, por exemplo, ele votou a favor do impeachment de Dilma Rousseff, em nome de Carlos Alberto Ustra, oficial do Exército, considerado o maior torturador.
Em uma entrevista ao jornalista Jair Marchezini (falecido recentemente), disse que "o erro da ditadura foi torturar e não matar". Agora, sob a mira de processos que podem levar à inelegibilidade definitiva e prisão, Bolsonaro utiliza garantias constitucionais que seu próprio governo tentou enfraquecer, como a liberdade de expressão e o devido processo legal.
Para estudiosos de autoritarismo, como a historiadora Heloisa Starling, a situação expõe a hipocrisia de líderes populistas. "Bolsonaro construiu sua imagem atacando as instituições, mas quando a mesa virou, ele se agarra a essas mesmas instituições para se proteger." É uma lição sobre a importância de preservar a democracia, mesmo para quem a despreza", analisa. Enquanto isso, organizações de direitos humanos pressionam por avanços nos casos de violação de direitos durante a pandemia, incluindo a omissão na compra de vacinas, que deixou mais de 700 mil mortos.
FEITIÇO E FEITICEIRO
Em 2018, após o anúncio do resultado da eleição presidencial, quando venceu Fernando Haddad (PT), Jair Bolsonaro, em suposta chamada de voz a Lula, disse: “Se depender de mim, você (Lula) vai apodrecer na cadeia”. Hoje, cerca de 8 anos depois, o ex-presidente corre o risco de ir para a prisão.