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Devoto processa Igreja Universal após doar dinheiro de uma 'vida toda'

Devoto processa Igreja Universal por ter sido coagido

Por: Profº Nicanor Fonte: diariodepernambuco
21/03/2025 às 17h11 Atualizada em 28/03/2025 às 21h46
Devoto processa Igreja Universal após doar dinheiro de uma 'vida toda'
reprodução

Um homem de 50 anos, morador de Olinda, no Grande Recife, trava uma disputa na Justiça contra a Igreja Universal do Reino de Deus depois de vender sua padaria e doar R$ 31,5 mil à instituição religiosa em troca de “uma mudança positiva de vida”. Após a doação, Manoel Rodrigues Chaves Filho alegou que ficou desempregado, terminou o casamento e contraiu dívida com o colégio de sua filha.

 Áudios obtidos pelo Diario de Pernambuco e autos do processo mostram um pastor pressionando Manoel a doar valor para a Universal em vez de destiná-lo à própria família. A doação foi feita em novembro de 2017. 

No processo, que se arrasta desde 2019, Manoel, que atualmente trabalha como padeiro, pediu restituição do valor entregue e indenização por danos morais. Em janeiro de 2022, o juiz Carlos Neves da Franca Neto Júnior, da 2ª Vara Cível da Comarca de Olinda, deu sentença parcialmente favorável a ele. A Universal entrou com recurso, que foi negado nesta quinta-feira (20).

De acordo com a ação, o padeiro passou a frequentar a Igreja Universal localizada na Avenida Cruz Cabugá, em Santo Amaro, Centro do Recife, em março de 2017. Lá, conheceu o pastor Rodrigo Antonio, que o teria assediado a fazer a doação com a venda da padaria.

Segundo Manoel, o líder religioso afirmou que "se ele entregasse o dinheiro, iria ter uma vida completa, a mudança viria de imediato, as pessoas que estavam virando as costas para ele no momento difícil iriam ficar surpreendidas com a prosperidade". Rodrigo Antonio teria dito ainda que o fiel conseguiria casa e carros luxuosos, padaria própria e muito dinheiro.

 Em um áudio anexado ao processo, o pastor orienta o padeiro a vender outros itens para doar à igreja. “Agora, é o senhor pegar e preparar o seu sacrifício, esse valor de R$ 30 mil e tudo que vier na mão do senhor. Se tiver mais coisa, o senhor pega e fala assim: 'vou vender, vou pegar esse dinheiro e botar num envelope'", diz um trecho. 

Outro áudio atribuído ao religioso mostra ele orientando Manoel a não repartir o dinheiro com a sua esposa, com a qual passava por um processo de separação, e sua filha. "Não toca naquilo que é sacrifício, seu Manoel. Se o senhor tocar, sua vida não vai mudar. (...) Pega o valor, tudo o que o senhor tem, põe no altar, no sacrifício, para Deus te abençoar”, ele orienta.

O autor da ação diz que repassou R$ 10 mil em cheque e R$ 21,5 mil em espécie. A transação teria ocorrido no estacionamento da igreja. 

 

"Eu fiquei numa dificuldade muito grande. Tive que colocar minha filha em uma escola pública porque não tinha mais condição de pagar”, conta Manoel ao Diario de Pernambuco. Após concluir que havia sido coagido, ele chegou a fazer um protesto, entrando na igreja em um dia de culto com a foto impressa de Rodrigo Antonio. 

"O pastor tirou o trabalho dele, tirou a dignidade dele e da família. Como uma igreja pede tudo que ele tem?", questiona Janaína. 

Manoel cogita reabrir  o seu negócio caso a vitória na Justiça se confirme. Ele não voltou a frequentar templos religiosos desde o episódio. “A gente erra muitas vezes na vida, mas o pior erro que cometi na minha vida foi esse”, diz, sobre a doação.

 A defesa da Universal argumentou que não há provas do repasse do dinheiro em espécie e que a Igreja está amparada no exercício da liberdade de organização religiosa ao estimular a doação, não tendo havido coação. A igreja argumenta ainda que se trata de “flagrante arrependimento tardio” por parte de Manoel.

O juiz afirma também estar convencido, pelas conversas de WhatsApp, de que o pastor recebeu pelo menos R$ 30 mil. "Portanto, este valor deverá ser restituído ao autor, como reparação do ilícito", decide. Já o pedido de danos morais não foi concedido. 

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