O Dia Mundial de Conscientização ao Autismo é celebrado nesta quarta-feira (2) como uma oportunidade de trazer à tona pautas relevantes para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA).
O Ministério da Saúde classifica o TEA como um distúrbio caracterizado pela alteração das funções do neurodesenvolvimento do indivíduo. Assim, é possível ver interferências na capacidade de comunicação, linguagem, interação social e comportamento. Existe uma alta subnotificação, mas a ONU estima que 1% da população mundial vive com o TEA. No Brasil, o número chega a 2 milhões, enquanto em Pernambuco é de aproximadamente 90 mil pessoas.
Os dados, apesar de serem o que menos importa se comparados à realidade vivida no dia a dia, representam bem o impacto do Transtorno do Espectro Autista nas famílias. O diagnóstico precoce e tratamento adequado, no entanto, podem permitir o desenvolvimento de estímulos para independência e qualidade de vida dessas pessoas.
“Trabalhamos com comunicação, redução de comportamentos inadequados, para proporcionar uma interação social e melhor qualidade de vida escolar no âmbito do aprendizado. Além do apoio em todas as áreas que possam ajudar no desenvolvimento dessas crianças”, explicou a psicóloga e coordenadora da Clínica Grupo Acolher, Elizabeth Chagas, em entrevista à Folha de Pernambuco.
Para a psicóloga, a data é importante para que a população se conscientize sobre o transtorno e dê o primeiro passo em prol da inclusão.
"Enquanto sociedade, podemos proporcionar inclusão, respeito, acolhimento e acessibilidade. Proporcionar uma inclusão escolar, criar políticas que incentivem pessoas com TEA no mercado de trabalho, apoio para as famílias, que é uma realidade muito distante, além de garantir diagnóstico e tratamento acessíveis, o que seria muito importante", disse.
Tratamento de qualidade muda vidas
Uma história que pode servir como inspiração para a transformação e manutenção da qualidade de vida de pessoas com TEA é a de Nedson Junior, mais conhecido como Nuno, de 16 anos. Diagnosticado com autismo desde criança, ele contou com o apoio da mãe e psicopedagoga, Cinthia Cardoso, para que possa viver, hoje, de maneira independente e "tirar de letra" a realidade na qual está inserido.
Juntos, fundaram a Clínica Nuno Desenvolvimento, que oferece atendimento especializado no Recife e em Carpina, Mata Norte de Pernambuco, além de tratamento home care em qualquer parte do Estado. Hoje ele é sócio da empresa, atua como analista de convênio e sonha em se tornar um psicoterapeuta.
"A história do Nuno foi baseada na persistência e exigência. A relação com Nuno é maravilhosa. Ele é carinhoso, atencioso e responsável com o trabalho. Um conciliador que gosta muito de animais e crianças. A vida fez com que a gente conhecesse de verdade o que é o autismo e partisse para se especializar de fato. O que era proposto há 16 anos não iria atendê-lo totalmente. Essa necessidade fez com que isso se expandisse para outras crianças", explicou Cinthia.
Segundo a psicopedagoga, o principal desafio enfrentado hoje em dia está na qualificação dos profissionais que atuam no atendimento de pessoas com TEA para que elas tenham, assim como Nuno, uma realidade de independência e total capacidade de desenvolvimento pessoal. "Apesar de certificados, existem profissionais que não estão devidamente habilitados e com identificação para trabalhar com o especial. O tratamento correto vai de acordo com o laudo médico e é feito apenas por especialistas", disse.
"Houve uma evolução no sentido da visibilidade, mas não existe uma inclusão na sociedade, porque ainda há muita desinformação. São atitudes e ações que qualquer espaço pode implantar para receber bem essas pessoas, como ambientes em que se sintam acolhidos e confortáveis. Inclusão é vida. Quando você passa a incluir, você ajuda não só a pessoa com neurodivergência, mas também a família toda", completou Cinthia Cardoso.